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Presbítero, Bispo e Pastor: Três Títulos, Uma Função? Uma Análise Doutrinária

  • Foto do escritor: Pastor Ivo Costa
    Pastor Ivo Costa
  • há 12 minutos
  • 7 min de leitura
pastor

A liderança na igreja cristã é um tema de constante estudo e, muitas vezes, de confusão. Na leitura do Novo Testamento, encontramos termos como Presbítero ($presbýteros$), Bispo ($epískopos$) e Pastor ($poimḗn$). Surge, então, a dúvida: Esses títulos representam diferentes ofícios, ou são meramente sinônimos usados para descrever o mesmo líder da igreja local?


Este artigo propõe uma análise detalhada das Escrituras e da evolução histórica e doutrinária desses termos, buscando demonstrar que, no contexto bíblico do Novo Testamento, Presbítero e Bispo são, de fato, títulos intercambiáveis que descrevem a mesma função de liderança e supervisão na igreja local, enquanto Pastor descreve a função inerente a esse ofício.


I. O Trio de Termos: Definição e Raízes Gregas


Para iniciar, é fundamental entender o significado literal de cada termo em seu idioma original (o grego do Novo Testamento).


1. Presbítero ($presbýteros$)

  • Significado Literal: Ancião ou Mais Velho.

  • Contexto: O termo tem origem no judaísmo (o $Sanhedrin$, ou Sinédrio, era composto por anciãos) e era usado para denotar idade, maturidade e, consequentemente, autoridade. Na igreja, o Presbítero é o líder que exerce uma autoridade baseada na maturidade espiritual, experiência e caráter.


2. Bispo ($epískopos$)

  • Significado Literal: Supervisor, Guardião ou Superintendente.

  • Contexto: O termo é de origem grega secular (não judaica) e descreve a função de vigilância, cuidado e supervisão administrativa ou moral. Na igreja, o Bispo é o líder cuja principal tarefa é supervisionar e cuidar da saúde e da doutrina da congregação.


3. Pastor ($poimḗn$)

  • Significado Literal: Aquele que apascenta, Guia de ovelhas ou Pastor de rebanho.

  • Contexto: É uma metáfora utilizada para descrever a tarefa de cuidar, alimentar, guiar, proteger e prover o rebanho (que representa o povo de Deus). O Pastor, biblicamente, é aquele que cumpre a função de apascentar a igreja de Deus.


II. A Evidência Bíblica da Sinonímia: Presbítero e Bispo


A chave para entender a diferença reside na forma como o Novo Testamento utiliza os termos Presbítero e Bispo dentro do mesmo contexto, aplicando a mesma qualificação ou responsabilidade aos dois.


1. O Testemunho de Tito


O Apóstolo Paulo escreve a Tito, seu discípulo, instruindo-o sobre como estabelecer a liderança nas igrejas recém-fundadas em Creta:

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, e de cidade em cidade constituísses presbíteros, como te mandei.” (Tito 1:5)

Na sequência, Paulo descreve os requisitos para esses líderes. E, ao fazê-lo, utiliza o termo Bispo:

“Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro de Deus...” (Tito 1:7)

Análise: Paulo começa dizendo para constituir Presbíteros (v. 5) e, imediatamente, passa a descrever os requisitos desses líderes usando o termo Bispo (v. 7). A mudança de termo é fluida e sem interrupção, indicando que, para Paulo, as duas palavras descreviam o mesmo ofício. O Presbítero é a pessoa (ancião), e o Bispo é a função que essa pessoa exerce (supervisão).


2. O Testemunho de Atos e Pedro

  • Em Atos 20: Paulo convoca os Presbíteros da igreja de Éfeso (v. 17). Ao se dirigir a eles, ele lhes diz: "Cuidai, pois, de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele comprou com seu próprio sangue." (v. 28).

    • Novamente, os líderes chamados de Presbíteros (o título de honra) são informados de que o Espírito Santo os constituiu Bispos (a função de supervisão).

  • Em 1 Pedro 5: O Apóstolo Pedro se identifica como "co-presbítero" (v. 1) e exorta os Presbíteros a cumprirem a função de pastorear (apascentar) o rebanho:

    "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado (exercendo a função de supervisão/epískopos) dele, não por força, mas espontaneamente..." (v. 2).


Conclusão Bíblica: A evidência esmagadora aponta para o fato de que, na igreja do primeiro século, Presbítero e Bispo eram títulos sinônimos que se referiam ao mesmo ofício de liderança e supervisão da igreja local. Eles governavam a congregação coletivamente (plural).


III. O Pastor: O Descritivo da Função


Se Presbítero e Bispo são o mesmo ofício, onde se encaixa o Pastor?

O termo Pastor ($poimḗn$) não é um título ou ofício distinto, mas sim a descrição da principal função inerente ao ofício do Presbítero/Bispo.


1. O Pastor como Dom Ministerial


Em Efésios 4:11, Paulo lista os dons que Cristo concedeu à igreja:

"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores."

Neste contexto, o Pastor (junto com o Mestre/Doutor) é apresentado como um dom ministerial (uma vocação) concedido à igreja para aperfeiçoamento dos santos. Esse dom, o de apascentar e guiar o rebanho, é exercido, primariamente, pelo Presbítero/Bispo.


2. A Tarefa dos Presbíteros


Conforme Atos 20:28 (citado acima), a tarefa do Bispo/Presbítero é "apascentar" ($poimaínein$) a igreja de Deus. Aquele que exerce o ofício de Bispo/Presbítero é, por definição, o Pastor da congregação.

Termo

Foco

Tradução

Presbítero

Título de Honra/Maturidade

Ancião

Bispo

Título de Função/Governo

Supervisor

Pastor

Descrição da Ação/Tarefa

Apascentador


Em resumo: O Presbítero é o indivíduo maduro e experiente (título) que exerce o papel de Bispo (supervisão) e cumpre a função de Pastor (apascentamento). São três formas de descrever a mesma pessoa e seu trabalho.


IV. A Evolução Pós-Bíblica: O Surgimento da Hierarquia (Bispo Monárquico)


Se os termos eram sinônimos na Bíblia, por que hoje a maioria das denominações usa Bispo como um cargo superior ao de Pastor e Presbítero?

Essa diferenciação não tem base no Novo Testamento, mas sim na evolução da estrutura da igreja nos séculos II e III d.C.


1. A Necessidade de Ordem e Unidade


Após o período apostólico, a igreja enfrentou intensa perseguição e o surgimento de diversas heresias (como o gnosticismo). Para combater divisões e manter a unidade doutrinária, as igrejas começaram a centralizar a autoridade.


2. O Bispo Monárquico


A prática comum de governo por um corpo de presbíteros (pluralidade) deu lugar à ascensão de um único Bispo em cada cidade. Este Bispo centralizava a autoridade e era o principal sucessor do Apóstolo, tornando-se o "Bispo Monárquico" (o supervisor único).

  • Inácio de Antioquia (c. 35 – c. 107 d.C.) é uma figura chave nesse processo. Ele defendia fervorosamente a submissão total ao Bispo como o único meio de manter a unidade. Ele distinguia o Bispo (singular) dos Presbíteros (plural), que o auxiliavam.


Com o tempo, o título Bispo deixou de ser sinônimo de Presbítero e passou a designar o líder-chefe (o superintendente de uma diocese ou região), enquanto Presbítero se tornou o título dos líderes auxiliares nas congregações locais (o que hoje chamamos de Pastores ou Presbíteros leigos).


3. As Diferentes Tradições

  • Tradição Católica/Ortodoxa: Mantém uma hierarquia clara: o Bispo é o líder de uma diocese; o Presbítero (ou Sacerdote) é o líder de uma paróquia; e o Diácono é o ministro auxiliar.

  • Tradição Protestante/Reformada: Muitas igrejas voltaram à prática bíblica, considerando Presbítero e Pastor como o mesmo ofício de liderança local (com a função de apascentar), enquanto o termo Bispo é frequentemente reservado para o líder distrital, sinodal ou para o título de honra do Pastor Sênior.

  • Tradição Metodista/Episcopal: Mantém a distinção hierárquica, onde o Bispo é um cargo eletivo com autoridade sobre vários pastores e igrejas (Superintendência).


V. O Presbítero na Prática Moderna: Leigo ou Clero?


Outra distinção moderna importante é entre o Presbítero Leigo e o Presbítero Docente (o Pastor).


1. Presbítero Docente (O Pastor)


É o Presbítero que exerce o ministério da Palavra em tempo integral e é remunerado para essa função. Ele é o principal Pastor (apascentador) da congregação. A Bíblia reconhece a distinção:

"Os presbíteros que governam bem sejam considerados dignos de dupla honra, principalmente os que trabalham na palavra e no ensino." (1 Timóteo 5:17)

O Presbítero que trabalha "na palavra e no ensino" é o nosso Pastor (Presbítero Docente).


2. Presbítero Regente (O Presbítero Leigo)


É o Presbítero que governa bem (regente), mas não é o principal responsável pelo ensino e pelo púlpito. Ele exerce a liderança e a supervisão em tempo parcial, enquanto sustenta sua família com outra profissão ("secular"). Ele é o Ancião leigo que governa a igreja junto com o Pastor.


Na prática de muitas igrejas reformadas, o ofício de Presbítero (ou Bispo) é exercido por um


Conselho de Presbíteros que inclui:

  • O Pastor (Presbítero Docente, que preside).

  • Os Presbíteros Leigos (Presbíteros Regentes, que governam e supervisionam a congregação).


VI. Requisitos e Responsabilidades Comuns


O que une todos esses títulos e funções é o conjunto rigoroso de requisitos morais e espirituais estabelecidos em 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:6-9.


A clareza desses requisitos reforça que a ênfase divina não está no nome do cargo, mas no caráter e na aptidão do líder. Um líder da igreja deve ser:

  1. Irrepreensível: Acima de qualquer crítica justa. Seu testemunho de vida deve ser exemplar perante a comunidade.

  2. Marido de uma só mulher: Fiel em seu casamento, demonstrando lealdade e pureza sexual.

  3. Temperante e Sóbrio: Equilibrado em seu comportamento e pensamento.

  4. Hospitaleiro: Apto a receber e servir.

  5. Apto para Ensinar: Capacidade de transmitir a sã doutrina (requisito crucial para o Pastor/Presbítero Docente).

  6. Bom Governador do Próprio Lar: Sua capacidade de liderar a igreja é validada pela forma como ele lidera sua própria família.

  7. Não neófito: Não ser um recém-convertido, a fim de evitar a soberba e a queda.


A Bíblia usa o termo Bispo para introduzir esses requisitos, mostrando que eles são obrigatórios para a função de supervisão (seja o líder chamado Pastor, Presbítero ou Bispo).


VII. Conclusão Final: O Título e a Tarefa


A resposta à pergunta central é: Sim, há diferença, mas ela é funcional e histórica, não de ofício no Novo Testamento.

  • No Contexto Bíblico: Presbítero (ancião) e Bispo (supervisor) são sinônimos que descrevem o mesmo ofício. Pastor é a função primária (apascentar) desse ofício.

  • No Contexto Moderno: A diferença é hierárquica, onde o Bispo tornou-se um cargo de superintendência (liderança de líderes), e Pastor/Presbítero é o cargo de liderança da igreja local.


No entanto, em qualquer estrutura, a tarefa permanece a mesma: apascentar o rebanho de Deus. O líder eficaz é aquele que cumpre o mandato de pastoreio, independentemente do título que sua denominação lhe confira. A essência do ministério não está na placa, mas no cuidado dedicado às ovelhas de Cristo.

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